O Brasil não tem apenas uma seleção que ostenta o título de ser pentacampeã mundial. A Seleção Brasileira de futebol de cegos é campeã absoluta da modalidade nos Jogos Paralímpicos. São cinco medalhas de ouro (conquistados em 2004, 2008, 2012, 2016 e 2020) desde quando a modalidade foi inserida no programa do maior evento esportivo do mundo. 

Agora, nas Paralimpíadas de Paris, o Brasil vai em busca do inédito. Para isso, a equipe vem apostando em uma preparação diferente. Pela primeira vez, há uma seleção permanente de futebol de cegos. Todos os jogadores que defendem o país estão treinando desde janeiro no Centro de Referência Paralímpico, que fica no Instituto de Cegos Adalgisa Cunha, em João Pessoa, na Paraíba. Antes, os atletas treinavam apenas 10 dias por mês em São Paulo, na sede do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). 

O técnico da seleção brasileira, o paraibano Fábio Vasconcelos, comemorou a montagem da equipe permanente na capital paraibana e destacou que isso pode melhorar a preparação do time para Paris. 

“A gente fica feliz. Estou há 20 anos no futebol de cegos e era um sonho termos uma Seleção permanente. Por conta dos Jogos Paralímpicos em Paris, mostramos para a Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais e ao Comitê Paralímpico Brasileiro que tínhamos tudo para organizar uma seleção permanente. Mesmo com pouco tempo, já podemos ver a evolução dos atletas, a felicidade deles, que trouxeram as famílias para cá. Todo mês, a gente ficava 10 dias em São Paulo, depois voltava. Então, está sendo uma experiência bem interessante”, falou o técnico. 

Paraíba como referência

A conquista da Seleção permanente não foi por acaso. A estrutura que a Paraíba tem para o esporte fez a diferença na escolha do estado para acolher o time. 

“O Instituto dos Cegos conta com um ginásio que é referência no Brasil, é todo adaptado, tem uma banda lateral fixa, só para os cegos jogarem. Com esse Centro de Referência que o CPB trouxe para o Instituto fortaleceu ainda mais. E ainda temos uma parceria com a UFPB. Todas as avaliações físicas são feitas lá, a cada 15 dias.Também temos alojamentos, refeitório, é uma estrutura que não deixa a desejar para ninguém. Por isso, a Confederação e o CPB aceitou trazer para cá, porque sabia da estrutura e sabia que os atletas estariam felizes em treinar aqui”, explicou Fábio Vasconcelos. 

Fábio Vasconcelos comanda a Seleção Brasileira desde 2013. Antes de ficar à beira das quadras, o paraibano foi goleiro do Brasil por quase uma década e se despediu em Londres 2012. O experiente técnico destacou que, por toda a tradição que o país tem na modalidade, a equipe brasileira chega para brigar pelo lugar mais alto do pódio. 

“A gente é pentacampeão das Paralimpíadas, e quando o Brasil vai, é um país que sempre chega para brigar pelo primeiro lugar. Em todas as competições, vamos com esse objetivo, pela estrutura que temos hoje. Os jogadores são todos profissionais, recebem salários, só vivem para treinar e para trabalharem no futebol. Então, temos a obrigação de brigar pela medalha. A gente sabe que têm outros países muito fortes, que vão brigar e que estão trabalhando também. Mas a gente espera chegar lá bem e o objetivo é brigar pelo hexa”, destacou Fábio. 

O ala ofensivo da Seleção Brasileira de futebol de cegos, Jeferson da Conceição Gonçalves, é um dos jogadores que está treinando em João Pessoa. O baiano joga no Maestro-PR. Ele é tetracampeão paralímpico com o Brasil e já foi eleito o melhor jogador do mundo em 2010. Jefinho Gonçalves, como é conhecido, comemorou a criação da Seleção permanente e elogiou a estrutura que a Paraíba oferece.

“Treinar todos os dias vai nos ajudar muito nessa caminhada. Aqui está sendo algo muito diferente muito especial, João Pessoa tem sido uma cidade muito boa para morar, e o centro de referência tem sido um local excelente para o nosso treinamento toda a estrutura que tem aqui, de quadra, de piscina, de academia, tudo isso vai nos ajudar a chegar na nossa melhor forma em Paris. E esse tempo que a gente tem é curto, porém, acredito que estamos usando muito bem para chegar 100% em Paris,” destacou Jefinho. 

Base paraibana 

A Paraíba é responsável pela base da Seleção Brasileira. Toda a comissão técnica é paraibana: Fábio Vasconcelos (técnico), Josinaldo Sousa (auxiliar técnico e treinador de goleiros), Halekson Barbosa de Freitas (fisioterapeuta), Edson Gomes Marinho Júnior (preparador físico e chamador). Além disso, três jogadores também são do estado: Luan Lacerda (goleiro), Matheus Costa (goleiro) e Lucas Pereira Caetano (ala ofensivo).

No time brasileiro, ainda há quatro jogadores que jogam pela Associação Paraibana de Cegos da Paraíba (APACE-PB): Jonatan Felipe Borges da Silva, Jardiel Vieira Soares, Maicon Junior dos Santos Mendes, Matheus da Costa. 

O paraibano Lucas Pereira Caetano descobriu o futebol de cegos em 2015, em sua cidade, Sousa. No mesmo ano, ele se mudou para Campina Grande e foi convocado pela primeira vez para defender o Brasil. Em sua primeira Paralimpíada, Lucas está feliz em dividir as quadras com referências e ressaltou a força que o Nordeste tem na modalidade. 

“A gente tem vários jogadores com muita qualidade, não só aqui da Paraíba, como no Nordeste. A região acaba sendo um grande celeiro de craques para o futebol de cegos. E eu me sinto tão honrado de estar participando no meio dessas feras. Seguimos trabalhando cada vez mais para chegar lá na frente”, disse Lucas. 

Os Jogos Paralímpicos de Paris vão ser disputados entre 28 de agosto e 08 de setembro.