O técnico do Serra Branca, Ranielle Ribeiro, é um dos nomes que se consolidaram no futebol paraibano nos últimos anos. Último treinador bicampeão estadual, com o Campinense, o potiguar, de 44 anos, agora quer escrever uma nova história com o Carcará do Cariri. Nesta temporada, ele conduziu o time para a semifinal do Paraibano e vai em busca do título inédito para o Serra e do seu terceiro estadual como treinador.
Apesar de pouco tempo na função de treinador — são quase sete anos de atuação —, Ranielle já viveu momentos bons, ruins, de aprendizados e de recomeços, que serão contados nesta reportagem especial do Arena Correio.
Confira a entrevista em vídeo:
A ‘loucura’ de se tornar treinador
Ranielle Ribeiro define como uma loucura a decisão de se tornar treinador. Tudo começou ainda nos anos 2000. Antes de chegar à beira dos gramados, ele começou nas quadras de futsal, como professor de educação física em várias escolas no Rio Grande do Norte. Depois, em 2003, Ranielle foi para o ABC, onde começou como auxiliar de preparação física do futebol profissional e, posteriormente, efetivo nas categorias de base.
Ele trabalhou na função de preparador físico por quase 14 anos. Só que, em 2017, ele decidiu fazer a maior loucura da sua vida.
Trabalhei como preparador físico até 2017, e, depois, fiz a loucura de mudar de função. Mas foi uma mudança que, para mim, foi muito prazerosa. Eu era apaixonado pela preparação física e, hoje, sou ainda mais apaixonado pela função que eu exerço. Eu nunca pensei que fosse me apaixonar ainda mais
disse Ranielle
Ranielle nunca teve a pretensão de ser técnico. No entanto, com dez jogos à frente do ABC, de forma interina, na reta final da Série B de 2017, toda essa perspectiva mudou.
“Eu comecei a fazer alguns trabalhos e comecei a enxergar tudo que eu estava fazendo no trabalho técnico e sendo espelhado no jogo. Aquilo me deu um estalo, e eu digo que é loucura, porque, conversando com a minha primeira esposa, ela dizia para não trocar de função, por conta do risco. E eu falei para ela que, se eu não trocasse, talvez algum dia eu me arrependesse. Então, nesses 10 jogos que eu fiz na reta final da Série B de 2017, a função de treinador me seduziu de uma forma muito forte”, explicou.
Com o ABC, foram 12 anos de trabalho, conquistando sete campeonatos potiguares, sendo dois como técnico, em 2016 e 2018, três acessos para a Série B e um vice da Copa do Nordeste.
Falta de privacidade
Quando Ranielle decidiu ser treinador, ela já sabia das dificuldades que iria enfrentar. A grande pressão, comum a qualquer técnico do futebol brasileiro, Ranielle já aprendeu a lidar. Porém, ele ainda não se acostumou com a falta de privacidade.
“Alguns treinadores são mais vaidosos, gostam de chegar e serem reconhecidos, mas eu não gosto dessa sensação, não me acostumei ainda. São duas dificuldades, que eu, como treinador, sinto muito: a falta de privacidade e, às vezes, algumas pressões exageradas que existem. Mas isso é mais tranquilo de absorver”, avaliou.
Futebol e família
A família sempre esteve presente na trajetória de Ranielle Ribeiro no futebol, seja nas fases boas ou ruins. Em 2019, após a morte da sua estão esposa, Ana Letícia Rezende, o futebol foi muito importante para que ele recomeçasse a sua carreira.
“Eu lembro que aconteceu no sábado. Na terça, eu já tive que voltar a trabalhar, porque senão eu ia pirar, ia enlouquecer. O futebol realmente foi muito importante para mim. O ABC me deu toda a assistência que eu precisava, o grupo de atletas que eu tinha na época foi fantástico. Então acho que por isso a minha paixão pelo futebol sempre cresce. Tudo o que eu tenho na vida, quem me deu foi ele. Sempre fez por onde me gerar felicidade, alegria, através dele”, declarou.
Essa tragédia familiar também fez com que Ranielle mudasse a sua forma de cuidar do grupo de atletas que trabalha.
“O que eu perguntava mais a Deus era o que eu tinha que tirar de positivo de uma coisa dessa. E, hoje, Deus me encaminha a cuidar dos meus atletas, do meu staff e de qualquer pessoa que esteja ao meu redor. Eu procuro semear sempre o amor à família, o cuidar da família, o respeito às esposas, aproveitar o maior tempo possível com os filhos, porque eu tive o processo de perder parte da primeira família e aquilo foi muito ruim para mim”, disse.
Hoje, Ranielle já reconstruiu sua família ao lado de Enzo, seu primeiro filho, que está com 11 anos. O técnico se casou novamente e teve o seu segundo filho, Noah, que tem nove meses. Esse recomeço fez com que o vínculo da sua família com o futebol aumentasse mais.
“A minha família é totalmente envolvida com o processo. Para onde eu vou, eu os levo, porque eles são a minha fortaleza, onde consigo recarregar as minhas energias, é onde eu faço o meu papel de chefe de família, de pai e de esposo. O lazer da minha família é no sábado ou no domingo assistir aos nossos jogos”, afirmou.
Consolidação no futebol paraibano e novos desafios
Ranielle Ribeiro chegou no futebol paraibano em 2021 para comandar o Campinense. Ao todo, foram 438 dias à frente da Raposa que o consolidaram no futebol da Paraíba e do Nordeste. Ele foi bicampeão paraibano (2021 e 2022), sendo o último título de forma invicta, além de conquistar o acesso à Série C de 2022. Em 67 jogos com o Rubro-Negro, foram 27 vitórias, 25 empates e 15 derrotas.
O técnico potiguar também ostenta outras marcas importantes no futebol paraibano. Além de ser o último técnico bicampeão estadual, ele também foi um dos que conseguiram manter uma longa invencibilidade no campeonato. Foram 24 jogos sem perder no Paraibano desde 2021. A derrota contra o Sousa, pela 2ª rodada do estadual de 2024, decretou o fim dessa marca.
Com a vitoriosa passagem no Campinense, Ranielle foi para o Santa Cruz, em 2023. No entanto, na Cobra Coral, o treinador não conseguiu ter o mesmo sucesso e saiu após 21 jogos.
Ainda em 2023, Ranielle aceitou um desafio diferente em sua carreira. Ele retornou à Paraíba para assumir o Serra Branca. Com uma nova administração e com grandes investimentos, o clube do Cariri havia acabado de disputar pela primeira vez a 1ª Divisão do Paraibano, conseguindo se manter na elite estadual.
Para 2024, uma das metas do clube era entrar no protagonismo do futebol paraibano, e Ranielle Ribeiro foi escolhido para conduzir a equipe.
O técnico destaca que ao aceitar a proposta do Serra Branca acreditava no projeto do clube e que estaria fazendo uma boa escolha.
“Eu cheguei aqui e essas estruturas eram só o concreto, só o esqueleto. Graças a Deus, eu fui visionário naquilo que eu entendia como uma boa escolha, que aqui ia se tornar uma potência do futebol paraibano e nordestino. Um clube sem vícios de diretorias antigas com a atual para gerar briga em entre conselho deliberativo ou coisa parecida. Todo mundo rema em único sentido, na mesma direção. Eu vivo aqui no Serra dias muito prazerosos, como talvez eu nunca tenha vivido em algum clube que eu tenha passado”, disse Ranielle Ribeiro.
A expectativa agora é pelo tricampeonato paraibano. Classificado para a semifinal, Ranielle Ribeiro e o Serra Branca vão encarar o Botafogo-PB, em dois jogos, para buscar a inédita vaga na final estadual.