De herói a ‘imprestável’: Piza revela bastidores e mágoa do Botafogo-PB
Técnico conversou com o Arena Correio e detalhou como ocorreu seu desligamento do Belo
Vitor Oliveira e Vitória Soares
8 de outubro de 2024

O técnico Evaristo Piza iniciou a terça-feira já sabendo que não seguirá no comando do Botafogo-PB para a temporada 2025. A decisão deixou o profissional contrariado, especialmente porque havia um acordo interno para a continuidade do trabalho, que, apesar de um aproveitamento de 61% em 2024, terminou de forma frustrante, sem o tão almejado acesso à Série B.

Em entrevista ao Arena Correio, Piza revelou detalhes dos bastidores, desde o vestiário do Raulino de Oliveira após a derrota para o Volta Redonda, quando lhe foi garantido o cumprimento de seu contrato para o próximo ano, até as discussões entre a atual gestão do clube e um dos acionistas da SAF do Belo, que resultaram em seu desligamento do time pessoense. CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA:

Como aconteceu a demissão?

“O Afonso e o Fausto defenderam meu trabalho. Eles estavam no dia a dia. O pessoal da SAF está vendo resultado. Eles não estavam acompanhando o trabalho no dia a dia do clube. Quem estava era Fausto e Afonso. E eles defenderam a minha permanência, porque viram que a gente trabalhou. A SAF achou melhor mudar.

Eu fui mandado embora da seguinte forma: o Fausto, que estava com Afonso, me ligou. Eu tinha ligado para o Fausto às 19h para saber o que eu ia fazer, quando eu ia embora, porque eu tinha férias a cumprir, quando eu ia voltar. Tenho carro, tenho apartamento, tem várias situações e estou há 11 meses fora de casa. Eu queria entender o que poderia ser feito. Daí o Fausto ligou para Paulo Monte e disse que eu estava cobrando uma posição para me organizar. Fausto disse que Paulo Monte disse assim: ‘Cadê o contrato do Piza?’. E ele enviou o meu contrato para Paulo Monte, que enviou o meu contrato para Lucas Franzato, da SAF.

No meu contrato, tem um adendo sobre questões contratuais: multa contratual para clubes da Série C era R$ 200 mil; para clubes da Série B ou Série D, era R$ 50 mil; caso constitua a SAF, a SAF teria direito de mudar o comando. E aí o Paulo Monte devolveu (o contrato) para o Fausto, dizendo que o Lucas iria exercer a cláusula de que, a SAF assumindo, ela pode mudar o comando sem ter a multa, para oxigenar o ambiente. Foi com esse motivo que eu fui mandado embora. Como não tem a multa, eles resolveram fazer isso.

Agora eu tenho que entender como será esse acerto. Eles vão me chamar, e aí tem a homologação. Só que a SAF ainda não está constituída. Quem está me mandando embora é o Botafogo-PB. Essa questão da cláusula contratual cai por terra.”

Evaristo Piza antes do confronto entre Botafogo-PB e Ferroviária (Foto: Cristiano Santos / Botafogo-PB)

Chateação do técnico

“Retornei agora (em 2024), de novo, num momento difícil. Desfiz um contrato verbal com o Mixto-MT, onde eu ia ganhar mais por eles na Série D do que no Botafogo-PB. Mas pensei no projeto e na longevidade. No Mixto-MT, era só até o fim do ano. No Botafogo-PB, até abril. O Mixto-MT me processou por essa quebra verbal de contrato. Foi tudo em prol do Botafogo-PB, pensando no acesso. Trabalhei pelo acesso até a última rodada. Fiz a melhor performance na história, com 41 pontos. No quadrangular, a gente pecou, errou e não classificou. Eu e algumas pessoas sabemos quem eu sou. Outras analisam: o Piza de 41 pontos (na primeira fase) é um, e o Piza de 5 pontos (no quadrangular) é outro.

Eu, diante da minha essência, sei o que eu sou. Eu nem sou o melhor por fazer 41 pontos e nem sou o pior por fazer 5. O melhor, que estava sendo exaltado até a primeira fase, virou um imprestável. Conduziram dessa forma a minha demissão. A SAF tem todo direito de assumir o clube e tomar a decisão que quiser tomar. Ela tem que trabalhar com profissionais da confiança dela. Não estou chateado por isso.”

Evaristo Piza em treino coletivo do Botafogo-PB. (Foto: Cristiano Santos/Botafogo-PB)

‘Poderiam ter me poupado”

“Eu estou assim (chateado) porque, após o jogo contra o Volta Redonda (no Raulino de Oliveira), teve uma palavra do presidente (Roberto Burity) no vestiário, elogiando o trabalho e a postura da equipe, porque nós fomos roubados lá, e isso atrapalhou brigar pelo acesso até a última rodada. Isso foi uma fala no vestiário, junto com o grupo. Depois, ele me chamou individualmente e falou: ‘Piza, seguimos firme. O trabalho foi excelente. O melhor na história da Série C. Vamos dar continuidade e pensar no planejamento de 2025’.

Foi uma semana muito difícil para mim. Como a gente vai trabalhar e resgatar algo dos jogadores eliminados? Direcionei a semana com profissionalismo, hombridade e respeito à camisa. Além disso, quem vestiria a camisa. Não era fazer um jogo por fazer. Aí eu fico 100 minutos de jogo sendo xingado pelos torcedores. Em nenhum momento rebati às críticas e às ofensas; e sim retribuí com um beijo no escudo, porque é o meu sentimento, que é tão dolorido quanto o do torcedor.

Era um sonho que eu tinha: fechar um ciclo aqui com sucesso, com a Série B. E não foi por falta de trabalho. Sabendo do que poderia acontecer nesta semana, o clube poderia ter me poupado de fazer o último jogo. Agora, precisava me expor para ficar recebendo ofensas, sendo xingado e ofendido? A mudança não se deu em 10 minutos, de domingo para a segunda-feira. Poderiam ter me poupado por tudo que fiz pelo clube em 103 jogos.”

Evaristo Piza à beira do gramado no comando do Belo (Foto: Wellington Faustino / FPF-PB)

Procura do Treze e de outros clubes

Não foi só o Treze que me procurou. E eu não queria escutar proposta no quadrangular. Eu disse: ‘Gente, eu preciso subir (para a Série B). Depois a gente conversa. Eu tenho contrato até abril e quero cumprir meu contrato’. Eu tenho meu representante, que me intermedia para entender o que acontece no mercado. Falaram meu nome no Retrô, no Náutico. Os clubes que estão sem treinador buscaram treinadores que estavam na competição.

Houve a procura do Treze, e eu disse que não tinha como conversar naquele momento. Quando nós perdemos para o Volta Redonda e ficamos fora da competição, veio uma situação mais firme, de uma proposta para assumir o ano centenário do clube.

Eu não tinha como abrir mão daqui, num momento de dor do clube. Eu não ia me sentir bem de, no domingo (após o jogo contra o Volta Redonda), dar um posicionamento positivo para assumir o maior rival. Eu saio eliminado de um acesso contra o Volta Redonda e, na segunda-feira, eu ia assumir o Treze no ano centenário? Eu não ia fazer isso em nenhuma situação, ainda mais se tratando do maior rival. Se eu faço uma situação dessa, ia gerar muito julgamento em cima do meu caráter.”

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Foto 1: Cristiano Santos / Botafogo-PB

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