SAF do Botafogo-PB é marcada por avanços, dívidas e rupturas na gestão; saiba detalhes
Reportagem do Arena Correio ouviu fontes que revelaram detalhes sobre a gestão do principal investidor da SAF alvinegra
Vitória Soares
20 de setembro de 2025

A concretização da SAF do Botafogo-PB foi um processo que se arrastou por mais de seis meses, marcado por expectativas e incertezas. Dentro de campo, os resultados ficaram abaixo do esperado. Já administrativamente muitas mudanças aconteceram ao longo do ano e, hoje, Fillipe Félix é a figura central da Belo SAF. Nesta reportagem, o Arena Correio ouviu fontes que revelaram detalhes de como a gestão do clube alvinegro tem se desenrolado ao longo destes primeiros meses. 

Início da SAF e mudança dos investidores

Finalmente, em fevereiro de 2025, os novos investidores do clube foram oficializados, dando início a uma nova fase administrativa no Alvinegro.

Inicialmente, os empresários Lucas Franzato, Celso Colombo Neto e Marcelo Campos Pinto adquiriram 90% da SAF do Botafogo-PB. A figura de Fillipe Félix começou a surgir no projeto como um patrocinador máster, mas aos poucos ele foi ganhando protagonismo na nova gestão alvinegra. 

No início da SAF do Botafogo-PB, o empresário Lucas Franzato era a principal figura do negócio. (Foto: Reprodução/TV Correio)

O empresário do ramo de aluguel de motos e celulares queria comprar entre 15% e 20% das ações da Belo Holding, empresa criada para controlar a SAF. O trio de investidores, porém, avaliou que seria difícil trabalhar com um sócio minoritário e condicionou a negociação à venda da totalidade das ações por R$ 30 milhões. O pagamento foi acordado em parcelas de aproximadamente R$ 700 mil.

Assim, o contrato final estabeleceu Fillipe Félix como investidor majoritário e Alexandre Gallo com 5% das ações, como parte do acordo para assumir o cargo de CEO do Botafogo-PB.

Dentro da negociação, todas as ações foram penhoradas como garantia – alienação fiduciária. Isso significa que Franzato, Celso e Marcelo permanecem como proprietários legais até que Fillipe quite integralmente os pagamentos. A liberação das ações ocorrerá de forma desproporcional: quando ele pagar cerca de 60% a 70% do valor, terá direito à liberação de 40% das ações. Caso descumpra o acordo, os antigos investidores podem retomar as ações, mediante execução judicial, já que elas são a própria garantia.

Investimentos

O contrato da SAF previa um investimento inicial próximo de R$ 9 milhões. Antes mesmo da oficialização, entre dezembro e fevereiro, foram feitos pagamentos antecipados que somaram cerca de R$ 1 milhão.

Os quase R$ 7 milhões restantes estavam vinculados às dívidas trabalhistas do Botafogo-PB, incluídas no Regime de Execução Centralizada (RCE) – dispositivo da Lei da SAF que permite o abatimento de débitos cíveis e trabalhistas do clube associativo. Pela legislação, é preciso destinar 20% da receita ao RCE. Embora o pagamento tivesse que ser feito à vista, Fillipe não teria aceitado essa condição. Então, Franzato e Marcelo intervieram para viabilizar o parcelamento em 18 vezes de aproximadamente R$ 400 mil.

Com isso, Fillipe Félix passou a ter a obrigação de arcar mensalmente tanto com as parcelas das dívidas trabalhistas quanto com o pagamento das ações da SAF – um compromisso próximo de R$ 1 milhão por mês.

Centro de Treinamento da Maravilha do Contorno. (Foto: Vitor Oliveira/Arena Correio)

Além desse aporte obrigatório, não teriam sido feitos outros investimentos diretos. O caixa do clube até aqui estaria sendo sustentado principalmente pelos R$ 6 milhões recebidos com a venda do mando de campo do jogo contra o Flamengo e por valores de patrocínio.

Fillipe Félix também estaria utilizando o fluxo de caixa do Botafogo-PB para injetar recursos em suas outras empresas. Um dos empréstimos identificados foi de R$ 500 mil. Apesar de ter quitado parte desses valores, ele ainda estaria devendo pouco mais de R$ 1 milhão ao clube.

Rompimentos e saídas

Os empréstimos feitos por Fillipe chegaram ao conhecimento de Alexandre Gallo, o que gerou desgaste na relação dos dois. Então, em julho, com os maus resultados do clube em campo, se deu o estopim do rompimento. Enquanto o CEO defendia a continuidade do técnico Márcio Fernandes, Fillipe preferiu promover as saídas dele e do executivo de futebol Fausto Momente.

Fillipe notificou a diretoria, por carta, que suspenderia os repasses feitos ao clube. Na mesma noite, Gallo acertou sua saída do cargo de CEO.

Dias depois, Alexandre Cavalcanti, que integra o Conselho de Administração, voltou a ganhar destaque na SAF Alvinegra, sendo o “braço da Paraíba” na gestão, como definiu Fillipe.

Fotos: Cristiano Santos e Divulgação

Com a saída de Gallo, Fillipe Félix passou a aparecer com mais frequência no dia a dia do clube e a tomar decisões diretamente. Além de mudanças na gestão, ocorreram cortes de pessoal: funcionários da área administrativa, de marketing e de comunicação foram dispensados. O coordenador da base e do futebol feminino, Nei Pandolfo, também foi demitido sob a justificativa de corte de gastos.

Alguns desses profissionais afirmam que não receberam o valor integral previsto na rescisão e estudam acionar a Justiça. Em alguns casos, os funcionários desligados relataram ter recebido propostas de acordo em valores muito abaixo do estipulado em contrato.

Marco Aurélio Félix foi nomeado diretor administrativo da SAF. Já o cargo de CEO permanece vago. Segundo Fillipe, um novo nome já foi escolhido, mas o anúncio oficial só será feito em dezembro.

Após a eliminação na Série C do Brasileiro, outras dispensas aconteceram como parte da reformulação para 2026. A diretoria decidiu não seguir com o técnico Evaristo Piza, além de promover as saídas do executivo de futebol, Felipe Albuquerque, e de outros profissionais da comunicação, marketing e nutrição.  

Apesar de deixar a gestão, Alexandre Gallo segue como sócio minoritário da Belo Holding, uma vez que Fillipe ainda não quitou a parte correspondente à sua participação.

Possível entrada de outro investidor

Ainda no início da administração de Fillipe, surgiu o interesse de um novo investidor em adquirir a SAF. O plano era firmar um instrumento particular com Fillipe, pelo qual ele seria ressarcido em cerca de R$ 4 milhões – valor já aportado no RCE e em parcelas da compra das ações. Esse novo investidor assumiria o parcelamento diretamente com Franzato, Celso e Marcelo.

O acordo chegou a ser discutido com o departamento financeiro do interessado, que propôs antecipar os R$ 4 milhões e assumir os pagamentos futuros. No entanto, Fillipe Félix não aceitou a proposta, mantendo-se como controlador da SAF.

O que diz Fillipe Félix 

Tentamos inúmeros contato com Fillipe Félix, mas apesar de haver uma sinalização positiva para uma possível entrevista, não tivemos mais retorno até a publicação da matéria. O espaço está aberto para que ele possa se pronunciar. 

O que diz o clube

Conversamos com um representante do Conselho Fiscal da SAF do Botafogo-PB que afirmou que a gestão de Fillipe Félix tem sido transparente dentro do que o contrato estabelecido permite ser divulgado. A previsão é que um balanço financeiro do primeiro ano de SAF seja apresentado ao Conselho Deliberativo em abril do ano que vem, quando completam-se 12 meses da nova administração. 

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Foto: João Neto / Botafogo-PB

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