Fotógrafo paraibano transforma futebol amador de Campina Grande em arte e patrimônio
Jovem que começou sua trajetória quase por acaso, é um dos principais nomes quando o assunto é registrar a paixão pelo esporte na Rainha da Borborema
Raniery Soares
5 de outubro de 2025

Em Campina Grande, cidade onde o futebol amador pulsa nas ruas, nos bairros e nos campos improvisados, a fotografia de Rafael Costa se tornou uma ponte entre memória e pertencimento. O jovem fotógrafo, que começou sua trajetória quase por acaso, é hoje um dos principais nomes quando o assunto é registrar a paixão pelo futebol amador na região.

Curiosamente, a fotografia não nasceu como paixão dentro da sala de aula de Jornalismo. Rafael relembra que, durante as disciplinas ministradas pelo professor Rostand Melo, uma das referências no ensino de fotografia na Paraíba, não via brilho na temática. 

O interesse só surgiu quando cruzou o caminho de Daniel Lins, fotógrafo que ficou conhecido por atuar no dia a dia do Campinense Clube

“O Daniel foi um verdadeiro mentor. Ele insistiu para que eu pegasse a câmera e começasse a fotografar. Tudo que aconteceu comigo na fotografia foi por causa dele”, disse.

A primeira câmera de Rafael, uma Canon T6i Rebel, foi comprada inicialmente para gravar um documentário da universidade. O equipamento acabou ficando guardado até que a insistência de Daniel fez com que Rafael mudasse de ideia. A partir daí, o que começou como experimentação se transformou em profissão e, principalmente, em missão.

(Foto: Rafael Costa)

O futebol amador como laboratório e paixão

Antes de se tornar fotógrafo, Rafael já tinha no futebol amador uma ligação afetiva. Ainda criança, era levado pelo pai para assistir às peladas que aconteciam onde hoje é o Estádio Plínio Lemos, no bairro José Pinheiro. 

“Eu lembro vagamente da gente entrando por um buraco no muro para ver os jogos. Esse contato foi marcante”, recordou.

Quando a fotografia entrou de vez em sua vida, Rafael encontrou no futebol amador o campo ideal para aprender e, ao mesmo tempo, reviver essa memória. Dos jogos de bairro no São Domingos do Monte Castelo e Santo Antônio, às disputas em cidades como Lagoa Seca, Gado Bravo e Caturité, o fotógrafo passou a registrar não só lances, mas histórias.

Aos poucos, a experiência foi deixando de ser apenas um hobby. Rafael abriu mão do trabalho na Rádio Caturité para se dedicar exclusivamente à fotografia. 

“Primeiro era uma forma lúdica, de registrar o que acontecia. Depois, acabou se tornando profissão. Larguei a reportagem de rádio para virar repórter fotográfico”, afirmou.

(Foto: Rafael Costa)

Resgatar cultura, registrar pertencimento

Para Rafael, a importância de registrar o futebol amador vai além da fotografia em si: é um ato cultural. Ele lembra que grandes jogadores paraibanos do cenário nacional deram os primeiros passos em Campina Grande, como o meia-atacante Thaciano (Santos), além dos atacantes Hulk (Atlético-MG) e Arthur Cabral (Botafogo-RJ), tiveram sua origem no amador. Mas, muitas vezes, não existem registros fotográficos desse passado. 

“É um resgate da nossa cultura. Quem mora aqui sabe: a praia de Campina Grande é o futebol. Quando fotografo um jogo de bairro, não estou apenas congelando uma imagem, estou registrando uma parte da vida das pessoas e da cidade”, explicou.

O fotógrafo também cita como inspiração o jovem fotógrafo Jefferson Cariri, que já documentava o futebol nos bairros e pequenas cidades da região de Campina Grande

“Eu até me ofereci como assistente dele, porque queria aprender mais. Ele e Daniel foram minhas grandes referências”, completou.

(Foto: Rafael Costa)

Diferenças entre os universos profissional e amador

Rafael já teve oportunidade de fotografar tanto o futebol profissional quanto o amador, e percebe as diferenças. No profissional, segundo ele, há mais técnica, domínio e estética. No amador, sobra pertencimento e emoção. 

“Cada gota de suor ali reflete um trabalho árduo, que muita gente não conhece. Já fotografei jogos em que pai e filho jogavam juntos. São histórias que mexem muito com o sentimento e que não vemos com tanta frequência no futebol profissional”, relatou.

Ele também destaca uma maior receptividade do público amador. Nas cidades do interior, como Gado Bravo, Aroeiras e Barra de Santana, todas no Agreste da Paraíba, a acolhida é sempre calorosa. 

“A gente se sente em casa. Existe um carinho maior, um contato mais humano, diferente do profissional, onde o trato é quase sempre estritamente técnico”, comentou.

(Foto: Rafael Costa)

A fotografia como ferramenta de valorização

Se no início a fotografia parecia apenas registro, hoje Rafael entende que seu trabalho tem impacto direto na valorização do futebol amador. Em tempos de redes sociais, as imagens ajudam a dar visibilidade e até a estimular a organização de novos campeonatos. 

“Já recebi mensagens de atletas dizendo que o sonho deles era ser fotografado por mim. Isso mostra que nosso trabalho tem relevância, mesmo que pequena, no fortalecimento dessas competições”, afirmou.

Das fotos de taças e troféus às cenas de arquibancada, Rafael ajuda a criar uma estética própria para o futebol amador da região. Sua lente transforma os campos de barro em arenas de pertencimento, onde cada chute, cada comemoração e cada lágrima se tornam memória coletiva.

(Foto: Rafael Costa)

Guardião da memória do futebol amador

Rafael Costa não apenas fotografa. Ele documenta histórias, perpetua tradições e valoriza um pedaço fundamental da identidade campinense. Para ele, cada clique é mais que um trabalho: é um ato de resistência.

“Registrar o futebol amador é preservar uma parte da vida dos bairros, das famílias, da cidade. É fazer com que, no futuro, essas histórias não se percam”, resumiu.

No fim das contas, sua trajetória mostra que a fotografia encontrou em Rafael não apenas um fotógrafo, mas um guardião da memória do futebol amador de Campina Grande.

(Foto: Rafael Costa)

Confira outras imagens do futebol amador feitas por Rafael Costa:

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Foto principal: Jefferson Cariri

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