Dirigentes da Primeira Divisão da Paraíba falam sobre redução de datas dos Estaduais
Proposta da CBF de reduzir os Estaduais de 16 para 11 datas, a partir de 2026, gerou críticas dos dirigentes da Primeira Divisão da Paraíba
Raniery Soares e Vitória Soares
1 de junho de 2025

A proposta da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de reduzir as datas dos campeonatos estaduais a partir de 2026 já começa a gerar controvérsia nos bastidores do futebol brasileiro. Em seu discurso de posse como novo presidente da entidade, Samir Xaud confirmou a intenção de limitar os estaduais a 11 datas, contra as atuais 16.

“Nossa prioridade inicial é a adequação do calendário do futebol brasileiro. É compromisso dessa gestão implementar imediatamente mudanças significativas no calendário das competições. Assumo o compromisso de promover, entre outras medidas, a reorganização dos campeonatos estaduais para um calendário de no máximo 11 datas, sem comprometimento da qualidade e da sustentabilidade financeira dessas competições”, disse Xaud, durante seu discurso de posse.

O Arena Correio ouviu dirigentes de clubes da Primeira Divisão do futebol paraibano e, pelas opiniões, a proposta não agradou. Dentre os posicionamentos contrários a redução, a justificativa principal é que os estaduais são fundamentais para o planejamento financeiro, a visibilidade e a sobrevivência das equipes fora do eixo das grandes ligas nacionais.

Veja o que dizem os dirigentes paraibanos sobre a redução de datas:

Alexandre Gallo, CEO do Botafogo-PB

“Foi uma novidade também, a gente ainda não sentou para conversar sobre essa situação. É claro que sabemos que o calendário brasileiro é difícil principalmente para equipes que estão disputando várias competições. A gente ainda vai fazer uma avaliação sobre isso, ainda não pensamos efetivamente, nem conversei com a comissão técnica sobre isso. Mas é um assunto sempre a ser revisto, muita coisa ainda ver ser conversada. É claro que nós temos que defender, eu sou totalmente a favor dos estaduais, sou nascido no interior de São Paulo e sei o que um estadual representa para um time do interior. Agora, as questões das datas, elas podem ser melhor trabalhadas. Eu acho que essa diminuição vai facilitar outras competições da CBF. Isso vai ser uma briga eterna, o estadual tentando se defender e a CBF tentando aumentar o calendário em função de uma grande quantidade de competições. Eu acho que o bom senso sempre é o melhor, chegar em um acordo em que você pode favorecer os estaduais e também favorecer a demanda que existe da CBF”.

Marco Cesar, presidente do Esporte de Patos

“O novo presidente já começa errado, prejudicando mais ainda os Estaduais, que há anos atrás sofreram com uma primeira redução de datas, onde já era pouco para fazer um estadual, ficou pior e vai ficar pior ainda [com essa nova mudança]. Sabemos que a CBF não tem mais interesse nos Estaduais, onde não lhe dão um retorno financeiro, como o Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e outros campeonatos. Com isso, a cada ano, clubes menores estão cada vez fechando as portas mais rápido. Eu notei que ainda era o suficiente. Junto com a pré-temporada, vai ser no máximo três meses de atividade. Então, a CBF deveria pensar mais nos clubes menores, mas infelizmente quem decide são os clubes maiores”.

Zildo de Sousa, presidente do Pombal

“Sou contra essa redução de datas dos estaduais. Entendo as dificuldades que a CBF enfrenta para organizar o calendário nacional, acomodando todas as competições. Mas, por exemplo, aqui na Paraíba, neste ano, já tínhamos apenas 13 datas disponíveis. Reduzir ainda mais para 11 torna tudo mais complicado. Isso significa que, se uma equipe não avançar para a segunda fase, o campeonato termina ali. Ou seja, serão apenas nove jogos no ano para um time profissional. E nove jogos são muito pouco. Alguém pode até dizer: ‘Ah, mas é só se classificar para o quadrangular’. Eu sei disso, mas a realidade é difícil, especialmente para os clubes. E quando falo em dificuldade, não é vitimização nem mimimi. Eu não penso assim. Acredito que, com organização e planejamento financeiro, os clubes conseguem montar equipes mais competitivas e buscar um calendário maior — como a Série D ou Copa do Brasil -, que ajudaria a fomentar o cofre do clube para fazer o melhor time no ano seguinte. Mas, ainda assim, sou contra a redução de datas. Enquanto estiver à frente do Pombal Esporte Clube, essa será minha posição. Essa mudança só tende a prejudicar ainda mais os clubes, especialmente nos estados. Não é só uma questão de beneficiar os grandes — o Pombal se vê como um clube grande também. Um clube grande que precisa de calendário. Tratar desse modo vai dificultar cada vez mais a situação das equipes nos estados. Eu sou contra”.

Rafael Farias, presidente do Serra Branca

“Isso é uma pauta, na verdade, que já vem sendo discutida, não só de agora. O presidente antigo [Ednaldo] também já tinha essa ideia. Eu acho que é uma pauta que ainda está no campo da discussão, do debate. Enquanto presidente de um clube de uma realidade totalmente diferente dos clubes que têm várias competições, com calendário, eu vejo como negativo diminuir as datas. O Serra Branca, no ano de 2026, vai ter um calendário. Eu podia muito bem aqui ficar isento dessa discussão, mas como eu penso no fortalecimento do futebol, não só da Paraíba, mas do Brasil, eu me posiciono que se realmente bater o martelo, eu não acho que seja legal, a não ser que tenha um formato para que seja, digamos assim, compensado por essa diminuição do calendário. Eu vejo essa diminuição do calendário, principalmente para a realidade da Paraíba, com impactos, inclusive na economia das cidades. Você olha para a Campina Grande hoje, por exemplo, tem três times mandantes no Estádio Amigão [Treze, Campinense e Serra Branca], são três times que contratam jogadores, jogadores que vêm com suas famílias, que consomem na cidade, além de clubes que vêm jogar contra esses três clubes. Você olha para Patos, a mesma realidade, Sousa também, então eu estou falando de cidades muito importantes no estado. Eu não acredito que o presidente vá bater o martelo sem ter essa conversa, eu acredito muito no trabalho de Michelle para conduzir a vice-presidência e para estar ali ao lado do presidente para auxiliar, para dar opinião também. Se realmente isso acontecer [a redução das datas], eu acho que é interessante que crie uma alternativa para que o calendário não fique tão curto, porque aí a dificuldade para os times contratarem ela aumenta muito”.

Aldeone Abrantes, presidente do Sousa

“Discurso de quem quer atender a minoria elitista do nosso futebol. Só favorece a turma do eixo e a grande imprensa nacional”.

Artur Bolinha, presidente do Treze

“Na verdade, eu vejo uma certa preocupação nessa redução de data dos campeonatos estaduais, porque você a de convir que tem um número relativamente pequeno de clubes que podem participar de competições regionais e nacionais, o que na prática, deixa a grande maioria dos clubes com calendário restrito praticamente a dois meses no ano. Então, os clubes deixarão de, na prática, quase que existirem, aqueles que não conseguirem classificar para competições nacionais e, no caso da Paraíba, o fio tá pequeno. Esse ano a gente tá vendo, por exemplo, o próprio Campinense, o clube tradicional que está sem calendário. Então isso é muito ruim. Isso faz com que a relação com o torcedor vá perdendo liga, você vai conseguindo fazer com que haja um distanciamento na relação do torcedor para com o time e vice-versa. Você tem um ciclo, onde nem sempre os times estão sempre por cima. Todos os clubes já tiveram, em determinado momento, algum nível de dificuldade. Portanto, isso é uma coisa que me preocupa de fato e eu espero que seja revisto”.

O Arena Correio entrou em contato com os representantes do Campinense, mas até a última atualização desta notícia, as mensagens não foram respondidas. O Nacional de Patos está sem presidente, por isso não houve resposta do Canário do Sertão sobre o assunto.

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