Das pistas para o tatame: a história da paraibana Silvana Fernandes, estrela do parataekwondo
Paraibana se tornou uma das referências dos esportes paralímpicos. Há seis anos no parataekwondo, ela vem colecionando títulos pan-americanos e mundiais
Vitória Soares
3 de março de 2024

Nesta entrevista para o Arena Correio, a paraibana Silvana Fernandes compartilhou suas histórias que marcaram a sua trajetória no taekwondo paralímpico, sobre a sua representatividade dentro esporte e revelou como está sendo sua preparação em busca do ouro inédito na Paralímpiada de Paris.

Com apenas 24 anos, Silvana Fernandes se tornou uma das referências dos esportes paralímpicos. A paraibana de São Bento começou há seis anos no parataekwondo e já vem colecionando títulos parapan-americanos e mundiais. Só que ainda falta uma medalha para completar a prateleira da atleta. Depois da perda do ouro paralímpico em Tóquio 2020, ficando com a medalha de bronze, o sonho ficou adiado para Paris, em agosto deste ano, onde ela vai em busca do lugar mais alto do pódio.

E por traz de tantos objetivos já conquistados e ainda almejados, Silvana tem toda uma história de resiliência no esporte, que exigiram decisões que mudariam para sempre sua trajetória no esporte.

Do atletismo para o taekwondo 

Antes de brilhar nos tatames, Silvana Fernandes começou sua carreira no atletismo, em São Bento, sua cidade natal, quando ainda tinha 15 anos. Durante três anos, ela competiu profissionalmente no atletismo e foi campeã brasileira no lançamento de dardo, além de disputar provas dos 100m.    

Quando completou 18 anos, Silvana resolveu morar em João Pessoa, buscando melhores estruturas para os seus treinamentos. Foi a partir daí que ela começou a treinar na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) com Pedrinho, que hoje se destaca como técnico do recordista mundial Petrúcio Ferreira. 

No entanto, faltando um ano para os Jogos Parapan-Americanos de 2019, realizado em Lima, no Peru, Silvana chegou a pensar em desistir do esporte. Isso porque a classe em que ela competia no atletismo, a F46, não havia sido incluída na competição. Por conta disso, a paraibana não poderia realizar o seu sonho de tentar uma classificação para representar o Brasil nas Paralimpíadas. Foi neste momento tomado de incertezas que o taekwondo paralímpico apareceu em sua vida.

“Foi um momento de muita indecisão na minha vida. Pensei em algumas vezes desistir, porque o meu foco era as Paralimpíadas, era ser atleta internacional e representar o Brasil. Então, no mesmo ano que tive essa indecisão e esse impacto na minha vida profissional, foi quando eu conheci o taekwondo. Eu estava em uma competição de atletismo em Aracaju, e um olheiro do Comitê Paralímpico Brasileiro, o Sérgio Gato, me viu passando e disse que eu tinha uma envergadura muito boa para ser lutadora. Ele disse que o taekwondo paralímpico era um esporte que estava crescendo muito no Brasil e no mundo inteiro e que teria a sua estreia nos Jogos Parapan (de Lima) e nas Paralimpíadas (de Tóquio). Então poderia ser um esporte em que eu me daria muito bem”, explicou.

Silvana Fernandes treinando no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro. (Foto: Ale Cabral/CPB)

Ainda em 2018, Silvana mudou de modalidade e deu início ao que seria uma ascensão meteórica no esporte paralímpico. Todos os sábados, ela precisava se deslocar de João Pessoa até Campina Grande para os os treinamentos. Mas para ser uma atleta de alto rendimento, ela percebeu que precisaria treinar todos os dias. Então, o seu primeiro treinador indicou o técnico Adriano Lucena, que trabalhava na capital paraibana. Uma parceria que Silvana já sentia que daria muito certo. 

“Falei com Ricardo, e ele me passou o contato de Adriano Lucena, que é o meu técnico até hoje. Gostei da metodologia de treinamento dele, e ele tinha o mesmo pensamento que eu, de ser uma campeã. E quando a atleta tem o mesmo objetivo do técnico, e trabalham juntos para isso, o resultado vem”, disse.

Silvana Fernandes junto com seu técnico Adriano Lucena. (Foto: Reprodução/Instagram)

Em menos de um ano no taekwondo paralímpico, Silvana já deixou o seu nome na história. Ela conquistou a medalha de ouro no Parapan de Lima 2019. Já Nas Paralimpíadas de Tóquio 2020, que foi realizado em 2021, levou a medalha de bronze. E não parou por aí. Acontece que a paraibana também já se sagrou bicampeã mundial, bicampeã parapan-americana, além de acumular cinco medalhas de ouro e duas de prata em Grand Prix.

Agora, Silvana se prepara para conquistar a sua primeira medalha de ouro paralímpica, em Paris, no mês de agosto. 

“A preparação vem bastante forte. Em 2023, tivemos a prova de que a preparação estava super certa. Todas as competições a gente estava no pódio. Tirando a última, todos os pódios foram ouro. Então, a gente vê que a preparação vem forte e que a gente vai entrar em Paris para buscar esse ouro”, avaliou.

Representatividade 

Por onde compete, Silvana faz questão de levar a bandeira da Paraíba e o nome da sua cidade. Isso traduz o orgulho da paraibana de representar a sua terra. Além disso, a parataekwondista também sabe da representatividade para outras mulheres no esporte. 

“Para mim é um motivo de muito orgulho. Principalmente, orgulho maior de sair do sertão. Mostrar que tudo que é possível. Vir de longe para a capital e depois conquistar o mundo. E também a visibilidade de ser uma atleta mulher. Antes de mim, tinha apenas Petrúcio. E hoje tem a Andressinha do vôlei, tem eu no taekwondo, tem Débora que também representa a Paraíba. A gente está vendo uma força feminina bem maior e que é muito importante”, contou. 

Preparo mental 

Além da parte física, Silvana não deixa de cuidar da saúde mental. Para ela, essa é a parte mais importante da sua preparação. 

“O preparo mental é fundamental e o mais importante, porque não adianta eu estar preparada fisicamente e tecnicamente e não conseguir transferir nada do que eu treinei para a luta. Eu já venho trabalhando isso desde que eu entrei no taekwondo com a minha psicóloga, fazendo um trabalho bastante focado nas paralimpíadas, várias técnicas de atenção, concentração, diminuição de ansiedade antes de luta, para entrar mais tranquila, mais focada. A gente faz esse trabalho mais focado nas competições”, explicou.

Silvana Fernandes no Comitê Paralímpico Brasileiro. (Foto: Reprodução/Instagram)

Para chegar preparada psicologicamente nas competições, Silvana busca baixar o ritmo para ficar com a mente mais tranquila e não sofrer com as pressões. 

“A gente tem o período de treinamento, vem forte, e, na última semana antes de viajar, tem essa baixa de carga de treinamento. E eu tento fazer algumas coisas fora da minha rotina para poder ficar mais tranquila, como ir para a praia, fazer uma pequena viagem, justamente para tirar essa tensão da competição e viajar mais tranquila”, disse. 

Paraíba no topo do mundo

A Paraíba tem se tornado uma referência nos esportes paralímpicos. E o parataekwondo tem ganhando uma vitrine especial. No Mundial de 2023, foram três medalhas conquistadas por representantes do estado. Além do ouro de Silvana Fernandes, os taekwondistas Joel Gomes e Débora Menezes levaram a medalha de bronze.

Silvana exalta os resultados que os atletas paraibanos vem conquistando nos últimos anos e destaca que isso é o trabalho profissional que vem sendo desenvolvido. 

“De todos os medalhistas do Mundial, a Paraíba foi o único estado que teve três atletas medalhistas, com aproveitamento de 100%, mostrando o compromisso que a gente tem com a modalidade e toda a seriedade. Não somos uma equipe que tem apenas o técnico. Temos uma equipe de seis profissionais que nos acompanham, mostrando a seriedade do nosso trabalho. E tudo trabalhando da forma correta”, finalizou.

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