Professor Trindade
SEMPRE NA ÁREA

João Trindade é cronista esportivo, com larga experiência. Foi auditor do Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba.

Zico, Júnior e a máquina de calcular
17 de maio de 2024

Como todo mundo, já tive muitos ídolos e, como sói acontecer, os achava perfeitos, em todos os sentidos.

Só que o ídolo revelado publicamente nem sempre é a pessoa que se apresenta aos olhos ilusórios de quem o idolatra.

No campo do futebol, gostaria de citar Zico.

Zico, como jogador e pessoa, é exemplar, mas está longe de ser aquele Zico que as pessoas ao comparar com os jogadores de hoje dizem: “Os jogadores hoje jogam só por dinheiro… Que saudade do tempo de Zico… Esse, sim, jogava “por amor” ao
Flamengo”.

Será?

Vejamos esse depoimento de Walter Clark, o maior homem de televisão no Brasil, responsável pelo sucesso que a Rede Globo tem até hoje, no livro dele “O Campeão de Audiência”, pp. 357 e 358, falando do ano em que foi vice-presidente de futebol do Flamengo:

“No campeonato carioca de 1978, eu descobri que os jogadores de futebol podiam até não marcar bem os adversários em campo, mas jamais marcavam bobeira quando o assunto era dinheiro. Quando chegamos na reta final, o Flamengo pintando como campeão, os jogadores nos procuraram para negociar os prêmios. Eu e o Marco Aurélio, que era um administrador de empresas de primeiro time, nos reunimos com Eduardo Mota, professor de matemática, para estabelecer nossa estratégia de negociação.”

Zico comemora gol com a camisa do Flamengo (Foto: Google)


Na primeira reunião, com Cantarelli, Carpeggiani e Zico, o Eduardo começou a se enrolar nos cálculos e o Zico deu uma calculadora eletrônica para ele. Imagine a nossa cara! O dirigente era bom em matemática, mas quem estava equipado para os cálculos era o jogador…

Para encurtar a história: eles eram muito mais espertos do que nós. Falaram, calcularam, argumentaram, fizeram cálculos, aconteceram e nós entramos bem. No clímax da negociação, ainda aparece o Júnior, que ninguém sabia, mas era o verdadeiro craque dos negócios. Ele veio inteiramente em forma e nos deu um baile de dar dó. Olé em cima de olé. No final, fechamos um acordo de gratificação pela vitória no campeonato, que era uma beleza – para eles. Eu tive que pôr dinheiro do meu bolso para inteirar a quantia combinada. E, de quebra, ainda demos a renda inteirinha de um jogo. Nós, os três patetas, entramos na roda…

Algum erro de Zico e Júnior? Claro que não! Mas que eles jogavam só “por amor” e são
diferentes dos atletas de hoje é pura ilusão de idolatria.

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