João Trindade é cronista esportivo, com larga experiência. Foi auditor do Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba.
Como todo mundo, já tive muitos ídolos e, como sói acontecer, os achava perfeitos, em todos os sentidos.
Só que o ídolo revelado publicamente nem sempre é a pessoa que se apresenta aos olhos ilusórios de quem o idolatra.
No campo do futebol, gostaria de citar Zico.
Zico, como jogador e pessoa, é exemplar, mas está longe de ser aquele Zico que as pessoas ao comparar com os jogadores de hoje dizem: “Os jogadores hoje jogam só por dinheiro… Que saudade do tempo de Zico… Esse, sim, jogava “por amor” ao
Flamengo”.
Será?
Vejamos esse depoimento de Walter Clark, o maior homem de televisão no Brasil, responsável pelo sucesso que a Rede Globo tem até hoje, no livro dele “O Campeão de Audiência”, pp. 357 e 358, falando do ano em que foi vice-presidente de futebol do Flamengo:
“No campeonato carioca de 1978, eu descobri que os jogadores de futebol podiam até não marcar bem os adversários em campo, mas jamais marcavam bobeira quando o assunto era dinheiro. Quando chegamos na reta final, o Flamengo pintando como campeão, os jogadores nos procuraram para negociar os prêmios. Eu e o Marco Aurélio, que era um administrador de empresas de primeiro time, nos reunimos com Eduardo Mota, professor de matemática, para estabelecer nossa estratégia de negociação.”
Na primeira reunião, com Cantarelli, Carpeggiani e Zico, o Eduardo começou a se enrolar nos cálculos e o Zico deu uma calculadora eletrônica para ele. Imagine a nossa cara! O dirigente era bom em matemática, mas quem estava equipado para os cálculos era o jogador…
Para encurtar a história: eles eram muito mais espertos do que nós. Falaram, calcularam, argumentaram, fizeram cálculos, aconteceram e nós entramos bem. No clímax da negociação, ainda aparece o Júnior, que ninguém sabia, mas era o verdadeiro craque dos negócios. Ele veio inteiramente em forma e nos deu um baile de dar dó. Olé em cima de olé. No final, fechamos um acordo de gratificação pela vitória no campeonato, que era uma beleza – para eles. Eu tive que pôr dinheiro do meu bolso para inteirar a quantia combinada. E, de quebra, ainda demos a renda inteirinha de um jogo. Nós, os três patetas, entramos na roda…
Algum erro de Zico e Júnior? Claro que não! Mas que eles jogavam só “por amor” e são
diferentes dos atletas de hoje é pura ilusão de idolatria.