Professor Trindade
SEMPRE NA ÁREA

João Trindade é cronista esportivo, com larga experiência. Foi auditor do Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba.

Um cassino chamado Brasil
26 de setembro de 2024

Há algum tempo, falei sobre esse assunto, destacando matéria da Folha de São Paulo que mostrava o crescimento de endividamento de pessoas, devido a apostas nas chamadas bets.

Conforme previsto (foi “bola cantada”!), elas tomaram conta do país, se disseminaram e chegaram ao crime organizado.

Tudo isso tendo a colaboração de comunicadores, atletas, ex-atletas e treinadores, que, sem constrangimento e com a maior desfaçatez, enganam os torcedores, e os coitados apostam o que não têm, em busca do enriquecimento fácil.

E, mais uma vez, a Folha nos mostra que, em agosto, beneficiários do Bolsa Família (do Bolsa Família!) que fazem apostas esportivas online gastaram R$ 3 bilhões em bets, por meio de Pix, segundo análise do Banco Central. O montante destinado às empresas de apostas corresponde a 20% do valor total repassado pelo programa, no mês.

Dos 20 milhões de beneficiários, 5 milhões fizeram apostas no mês passado. O valor médio gasto por pessoa foi de R$ 100. Desse total de apostadores, 70% são chefes de família.

E ainda temos que engolir Galvão Bueno pedindo: “Jogue com moderação”. É muito cinismo!

A desgraça cada vez mais se espalha, numa escalada que será difícil, senão impossível, estancar.

Estava bem claro que a jogatina tomaria conta do Brasil, que resultados de jogos seriam manipulados, que donos de tais bets e seus “associados” enriqueceriam ilicitamente e que o crime organizado fatalmente tomaria conta desse novo e pernicioso nicho.

Providências necessárias

A primeira providência deveria ter sido tomada, logo no começo da liberação das apostas, era tentar evitar a explosão do consumo. Isso, infelizmente, não foi feito e efeito óbvio foi a enxurrada de publicidade das bets, em todos os meios de comunicação (até ônibus de linhas urbanas têm tal tipo de publicidade), insinuando ser o caminho certo para a ascensão econômica, quando se sabe que, nesse tipo de jogatina a maioria dos jogadores perde e só a banca ganha.

Não sou contra a existência de bets; mas é preciso uma regulação rígida, endurecida e a providência mais urgente é restringir, severamente, a publicidade, como já há muito vem sendo feito com o tabaco e o álcool. Aliás, tal ação é prevista na nossa Constituição Federal.

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