João Trindade é cronista esportivo, com larga experiência. Foi auditor do Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba.
Há algum tempo, falei sobre esse assunto, destacando matéria da Folha de São Paulo que mostrava o crescimento de endividamento de pessoas, devido a apostas nas chamadas bets.
Conforme previsto (foi “bola cantada”!), elas tomaram conta do país, se disseminaram e chegaram ao crime organizado.
Tudo isso tendo a colaboração de comunicadores, atletas, ex-atletas e treinadores, que, sem constrangimento e com a maior desfaçatez, enganam os torcedores, e os coitados apostam o que não têm, em busca do enriquecimento fácil.
E, mais uma vez, a Folha nos mostra que, em agosto, beneficiários do Bolsa Família (do Bolsa Família!) que fazem apostas esportivas online gastaram R$ 3 bilhões em bets, por meio de Pix, segundo análise do Banco Central. O montante destinado às empresas de apostas corresponde a 20% do valor total repassado pelo programa, no mês.
Dos 20 milhões de beneficiários, 5 milhões fizeram apostas no mês passado. O valor médio gasto por pessoa foi de R$ 100. Desse total de apostadores, 70% são chefes de família.
E ainda temos que engolir Galvão Bueno pedindo: “Jogue com moderação”. É muito cinismo!
A desgraça cada vez mais se espalha, numa escalada que será difícil, senão impossível, estancar.
Estava bem claro que a jogatina tomaria conta do Brasil, que resultados de jogos seriam manipulados, que donos de tais bets e seus “associados” enriqueceriam ilicitamente e que o crime organizado fatalmente tomaria conta desse novo e pernicioso nicho.
Providências necessárias
A primeira providência deveria ter sido tomada, logo no começo da liberação das apostas, era tentar evitar a explosão do consumo. Isso, infelizmente, não foi feito e efeito óbvio foi a enxurrada de publicidade das bets, em todos os meios de comunicação (até ônibus de linhas urbanas têm tal tipo de publicidade), insinuando ser o caminho certo para a ascensão econômica, quando se sabe que, nesse tipo de jogatina a maioria dos jogadores perde e só a banca ganha.
Não sou contra a existência de bets; mas é preciso uma regulação rígida, endurecida e a providência mais urgente é restringir, severamente, a publicidade, como já há muito vem sendo feito com o tabaco e o álcool. Aliás, tal ação é prevista na nossa Constituição Federal.