Professor Trindade
SEMPRE NA ÁREA

João Trindade é cronista esportivo, com larga experiência. Foi auditor do Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba.

Quanto vale um cartão amarelo?
1 de junho de 2024

Lucas Paquetá, que ganha R$ 48 milhões por ano no WestHam, patrocinado pela Betway, está na iminência de ser banido do futebol, uma vez que denunciado como alguém que, combinado com o também brasileiro Luiz Henrique, ex-Real Betis, hoje no Botafogo, levou cartão amarelo, num jogo da Premier League, para beneficiar amigos e parentes em Duque de Caxias (Baixada Fluminense). O que aconteceu é que os fiscalizadores desconfiaram das altas quantias efetivadas pelos apostadores.

Note-se a que nível de requinte chegou a corrupção do futebol, por meio dessas jogatinas, que, sem dúvida, chegaram ao extremo após o advento das bets. Antigamente (não muito antigamente), compravam-se árbitros de futebol, não devido a apostas, mas para beneficiar determinadas equipes. Ou compravam-se goleiros e zagueiros (os primeiros, para levarem “frango”; os segundos, para serem expulsos). Apostas do tipo: placar da partida, quem faz o primeiro gol, para qual time será o primeiro lateral, etc., eram feitas, exclusivamente por particulares. Já vi gente perder até casa e carro por causa de tais apostas; o que acontecia (e acontece), também, nas eleições.

Com a chegada das bets a coisa tomou ares de requinte. Até chegar ao ponto de, como no caso do qual Paquetá é acusado, o jogador provocar um cartão amarelo, aparentemente inofensivo. Como todos sabem, o cartão amarelo é uma punição mais branda e só provocará a expulsão (com o cartão vermelho), se o atleta recebê-lo três vezes.

As apostas, de qualquer tipo, são perniciosas: enriquecem as bancas e empobrecem os bolsos dos apostadores de boa fé. Não à toa, o Brasil já legalizou os bingos e depois voltou a proibir. Tais bingos foram alvos de duas CPIs, em 2004/2005. O atual governo, tentando minorar o problema, regulamentou o funcionamento das casas de aposta no país, obrigando-as a pagar impostos e implantando a fiscalização.

Mas, mesmo assim, as apostas se multiplicam, desenfreadamente, e as bets patrocinadoras da maioria dos clubes e da CBF, com grande visibilidade na mídia, produzem inúmeras ideias desse tipo de apostas e os consequentes crimes.

Cartões amarelos numa área não perigosa do campo não trazem risco ao resultado dos jogos, mas fazem mal da mesma forma, porque podem ser fruto do crime de corrupção no futebol. Lucas Paquetá tem até 3 de junho para apresentar a defesa final.

É de se perguntar:

No panorama do futebol atual, quanto vale um cartão amarelo?

“OLHO NO LANCE!…”

E perdemos Sílvio Luiz!… Para mim, o melhor e mais autêntico narrador esportivo que tivemos, nos últimos tempos.

Alegre, brincalhão, verdadeiro, impecável na narração dos lances, deixou bordões inesquecíveis, que certamente ficarão na memória dos desportistas brasileiros, como, por exemplo:

“Olho no lance!…”

“Pelo amor dos meus filhinhos.”

“Pelas barbas do profeta.”

Ficamos, então, sem Sílvio, uma rara sobrevivência de narrador que não torcia nas transmissões. Infelizmente, os “narradores” atuais não narram: “se esgoelam”, estridentemente, em favor do time pelo qual torcem.

É proibido cronista esportivo torcer? Claro que não! Desde que não seja na partida em que esteja narrando, comentando ou fazendo pista.