
João Trindade é cronista esportivo, com larga experiência. Foi auditor do Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba.
O goleiro Manga, cujo nome era Haílton Corrêa de Arruda, morreu na manhã de terça-feira (8), aos 87 anos, em consequência de um câncer de próstata.
Segundo reportagem da revista Placar nº 1329-A, o apelido teve como causa o fato de que quando juvenil do Sport Recife, já demonstrava ser um excepcional goleiro, ao conquistar, em 1954, o título da categoria, sem sofrer qualquer gol, sendo, por isso, comparado ao entãobomgoleiro do Santos, que tinha tal apelido.
Manga foi um dos goleiros mais completos que o Brasil já teve.Era ágil, tinha ótimos reflexos, fez inúmeras defesas consideradas impossíveis e, ainda por cima, era grande pegador de pênalti. Tinha, também, uma reposição de bola rápida, numa época em que tal destreza era rara. Ele defendia e repunha a pelota com rapidez e inteligência.
Com toda a razão, recusou, por muito tempo, usar luvas, porque elas eram, na época, muito duras e tiravam a sensibilidade; além do que eram uma aliadados adversários, quando chovia.
Brilhou em vários clubes brasileiros, mas foi no Botafogo carioca que fez história, tornou-se ídolo e um dos principais nomes, numa época é que o time era verdadeira seleção: contava com Garrincha, Amarildo e Zagallo. E no segundo bicampeonato carioca (1967 e 1968), atuou, entre outros craques, ao lado de Jairzinho e Gérson.

Início no Sport
Natural de Recife, começou a carreira no Sport, alcançando o tricampeonato pernambucano (1955, 1956 e 1958), antes de ir para o Rio, onde se tornou ídolo defendendo a camisa do Botafogo, entre 1959 e 1968.
Era um colecionador de títulos: foi tetracampeão carioca pelo Botafogo; tricampeão gaúcho e bi brasileiro pelo Internacional. Manga estava internado no Hospital Rio Barra, no. Ele tratava nos últimos anos um câncer de próstata.
Convocado pela seleção brasileira na Copa de 1966, Manga também conquistou títulos pelo Nacional, do Uruguai, sendo o primeiro goleiro do país a fazer sucesso em grandes equipes do exterior.
Reconhecido como um dos grandes jogadores da posição na história do futebol brasileiro, sua data de aniversário —26 de abril— passou a ser considerada o “dia do goleiro”.
Pelo Nacional, em que passou a jogar com luvas, Manga foi tetracampeão uruguaio (1969, 1970, 1971 e 1972) e venceu a Copa Libertadores, em 1971.
Manga também teve passagens pelo Grêmio (campeão gaúcho em 1979), Coritiba (campeão paranaense em 1978), e Operário-MS (campeão mato-grossense em 1977). Seu último clube foi o Barcelona de Guayaquil-EQU, conquistando o campeonato equatoriano em 1981. Ele se aposentou no ano seguinte, aos 45 anos.
Com a camisa da seleção brasileira, o goleiro foi convocado pelo técnico Vicente Feola como reserva de Gilmar na Copa de 1966. Assumiu a posição no terceiro jogo da fase de grupos, contra Portugal, após contusão sofrida pelo titular do posto. Então bicampeão, o Brasil de Pelé, Garrincha e Jairzinho acabou eliminado ainda na fase de grupos.
O goleiro ficou marcado defendendo as cores do Brasil por falhas em um amistoso preparatório para o Mundial contra a União Soviética, em 1965, que terminou empatado em 2 a 2, no Maracanã.
Irmão de manga jogou, por um bom tempo, no Esporte Clube de Patos
Manga tinha três irmãos jogadores de futebol; um deles, Dedé Manga, jogou por um bom tempo no Esporte Clube de Patos, destacando-se pela atuação clássica e precisão na defesa. Era um zagueirão de primeira e alto como o famoso goleiro. Foi um dos grandes destaques do alvi-rubropatoense.
Oriundo do Sport Recife, onde também brilhou, foi levado para Patos pelo eterno presidente do Esporte (que foi, também, atleta do clube) Zéu Palmeira, cujo irmão Antônio Palmeira era presidente do Sport Recife e liberou muitos craques para Zéu levar para o Esporte de Patos.
Aliás, Dedé Manga atuava no time quando do jogo que me deu a maior alegria que tive na infância: uma humilhante goleada de 4 x 1, contra o maior rival, Nacional, quebrando um tabu de vários anos.
Tal jogo foi bastante tumultuado, porque a torcida do Nacional começou a jogar pedras nos jogadores do Esporte, ferindo o supercílio do meio-campista Jader (primo meu, filha de uma irmã de papai) e a testa do técnico do Patinho, Nestor Gondim.
Um detalhe interessante é que o técnico do Nacional era meu irmão mais velho: Virgílio Trindade, que foi considerado um dos maiores técnicos de futebol da Paraíba e eu estava lá, como torcedor do maior rival do time que ele comandava. Nestor, inclusive, me apelidava de “o mais forte dos Trindade”.
(Desculpem a digressão à Machado de Assis).