João Trindade é cronista esportivo, com larga experiência. Foi auditor do Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba.
Corrupção em futebol não é novidade. Desde quando eu era menino, em Patos, já ouvia falar em encontros suspeitíssimos em Soledade (parada “obrigatória” nas viagens entre João Pessoa e o Sertão), onde se “costuravam” resultados.
As coisas, no entanto, eram paroquiais e incipientes; um árbitro aqui, outro ali; um goleiro que “frangava” de propósito; um zagueiro que provocava um pênalti…
Sim, já havia as “bets” informais, nos anos 1960, na “Morada do sol”. Em dia de Nacional x Esporte presenciei gente apostando dinheiro e até carro e casa, no resultado.
Mas não era só no resultado: apostava-se até de qual equipe seria o primeiro lateral.
As bets (agora sim, sem aspas) aperfeiçoaram, eletronizaram e criaram novas fórmulas de apostas, como por exemplo: apostar que jogador tal vai receber amarelo durante a partida. E aí entra a sacanagem geral, incluindo até a parentela daquele jogador.
Nesta terça-feira (05/11), os verdadeiros torcedores do Flamengo ficaram chocados com a operação deflagrada pela Polícia Federal, que foi bater no “Ninho do Urubu”, numa busca e apreensão em que está envolvido o jogador Bruno Henrique, uma estrela; um dos mais queridos jogadores da equipe.
E não foi apenas no CT do clube que as buscas e apreensão aconteceram. Outros 11 mandados foram cumpridos em endereços ligados ao atleta e familiares: no Rio, em Belo Horizonte, Vespasiano (MG), Lagoa Santa (MG) e Ribeirão das Neves (MG).
A acusação: possível manipulação de cartões para beneficiar apostadores do segmento esportivo.
O principal investigado é o atacante, além de familiares dele; entre eles, irmão, prima e cunhada; estes, suspeitos de terem apostado em que o jogador receberia um cartão.
A investigação: Bruno Henrique é investigado por um cartão amarelo recebido aos 50 minutos do segundo tempo, numa partida entre Flamengo e Santos, pelo Campeonato Brasileiro de 2023. O jogo foi disputado no Mané Garrincha, em Brasília.
No lance, o então atleta do Santos, Soteldo, está perto da bandeirinha de escanteio e arrisca um drible em Bruno Henrique. O jogador rubro negro tenta pará-lo e o árbitro Rafael Rodrigo Klein marca falta.
Depois do amarelo, o atleta rubro-negro recebeu cartão vermelho, por reclamação.
Segundo informações divulgadas na imprensa, a possível manipulação no jogo contra o Santos foi apurada a partir de um relatório da Ibia (International Betting Integrity Association) e da Sportradar, que fazem análises de risco do mercado de apostas. A suspeita foi levada à CBF (Confederação Brasileira de Futebol, que comunicou à polícia.
De acordo com a PF, os dados obtidos, no decorrer da investigação, junto às casas de Bets apontaram que as apostas foram efetuadas por parentes do jogador e por outro grupo ainda não identificado.
A assessoria do jogador não quis prestar esclarecimentos sobre o assunto.
Como sempre, o torcedor (de ambas as equipes) é quem perde. Fica, no íntimo, a indagação: Será que está havendo mesmo jogo ou tudo não passa de encenação?
Do jeito que as coisas estão, ainda vale a pena assistir a jogos e torcer pelo time preferido?
Será que outros jogadores (de outra natureza) não vão definir lances e resultados? Infelizmente, o futebol foi tomado pela corrupção e virou “caso de polícia”!