João Trindade é cronista esportivo, com larga experiência. Foi auditor do Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba.
Como em tudo na vida, o que vale em futebol é ter êxito no resultado. De que adianta um namorado carinhoso, que enche a mulher de flores, mas, “na hora H”, fraqueja?
Não, não estou me referindo apenas à virilidade ou ao sexo. Uma prova de grande amor que vence a barreira da impotência sexual é o belo filme “Bonnie and Clyde”, que, no Brasil, teve, lamentável e irresponsavelmente, o título “Uma Rajada de Balas”.
Por que estou dizendo isso? Porque no nosso país ainda existe aquele saudosismo besta de o time “jogar bonito”, jogadores darem dribles espetaculares, etc.
Pouca coisa me irrita tanto quanto ouvir alguns dizerem que a melhor seleção brasileira de todos os tempos foi a de 1982. Como assim; e a de 1970? Alguns ainda cometem a asneira de dizer: “ah, mas essa eu não vi jogar…”. E para que existem os muitos vídeos que há com os jogos dela? Em 1970, eu tinha 12 anos e foi a única – e a última – seleção brasileira pela qual torci. Não vi jogarem as de 1958 e 1962, mas sei – e vejo pelos VTs antigos – que foram grandes seleções.
Mas, se a de 1982 era “a melhor do mundo”, por que não ganhou a copa? “Não ganhou, mas foi ‘campeã moral’. “Campeão moral”, um eufemismo ridículo que acredito só existir no Brasil.
Que me perdoem os fanáticos, mas não posso acreditar numa seleção que tenha Waldir Peres como goleiro…
Futebol é feito para se ganhar; a bola dentro do gol é o que vale.
Com isso não estou dizendo, é óbvio, que prescinde da beleza. Claro que não!
Só que futebol é conjunto. Não adianta um time se confiar só em jogador A ou jogador B e vir com a velha desculpa: “perdeu porque fulano não jogou”.
A seleção de 1970, mesmo com Pelé, jogou em conjunto; eram maestros que sabiam o que fazer em campo e, com a bola no pé, conheciam as características de cada companheiro. Zagalo deslocou Tostão e Piazza das verdadeiras posições deles e o segundo abriu mão de ser um dos maiores goleadores do Brasil para “jogar sem bola”. É claro que teve a questão do deslocamento da retina, após grave contusão antes da copa, mas esse não foi o fator primordial.
Nem oito, nem oitenta. Nem saudosismo, nem modernismo demais.
Claro que havia mais romantismo e beleza no futebol do passado. Não haverá mais times completos como o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha. Por outro lado, não haverá mais zagueiros tão ingênuos a ponto de fazerem como faziam os defensores diante do maior ponta direita que tivemos: levarem um drible e ficarem sentados achando bonita a genialidade do craque brasileiro.
O futebol moderno é um misto de beleza e eficácia, com predominância da segunda. Na há mais posições fixas – nem mesmo a de atacante – e todos correm o campo todo, hora atacando, ora defendendo. Por outro lado, os bons treinadores mudam a toda hora o esquema de jogo, dependendo da reação do adversário.
Infelizmente, alguns times, sobretudo os da Paraíba, ainda têm o anacrônico jogo de atacantes não virem para defender e zagueiros não subirem – ou subirem pouco – e abusarem (os times) do ineficaz “chuveirinho” na área.
O tempo do futebol espetáculo passou. O que vale mesmo é a eficácia; é bola na rede. Se puder ter beleza, melhor… Mas a primeira é fundamental.
Frases (sobre futebol) que me irritam:
“Venceu, mas não convenceu”.
Time não tem que convencer. O objetivo é vencer!
Quando era comentarista de futebol em rádio, a maioria dos narradores me perguntavam, após o jogo:
“O resultado foi justo?”.
Desde que não haja interferência da arbitragem, todo resultado é justo.
“Ganhou, mas foi com um gol de ‘bola parada’”.
E daí? Gol de “bola parada” também é gol!
“Técnico fulano é ‘retranqueiro’”.
E daí? Se a retranca não for burra, é bem-vinda.